domingo, 30 de agosto de 2020

SÓ UM ENSAIO

 Com  Cecilia  Crepaldi

 

Desperto na manhã
e as rosas parecem
me negar o brilho,
a cor...

Então, volto ao sonho,
e ele me acolhe,
me desperta,
me chama...
me seduz.

E a vida me toma,
e a estrada me chama ...
e saio a correr,
sem medo ... ou dor...
e vou.

Não paro no chão,
me estatelo e me alço ...
e voo ... voo ...
até ver o mundo ...
até ver que o mundo ...
para e me flerta ...
me imita ...

O que sinto?
O que quero?
Talvez um aceno de razão...
Ou somente uma dor que explique...
ou me alegre ... me perdoe ...
me defina...


sexta-feira, 28 de agosto de 2020

SINOS E BATUQUES

 

Um dia, percebi a vida!
Vi altos rochedos,
flores exuberantes
amores e sonhos a brotar
por todas as partes,
risos incontidos
a se ofertar e prometer...

Vi animações
e oferendas ... melodias ...
sinos e batuques na madrugada,
bocas a dar graças ao tempo,
amores e mais amores ...
festas ao sol, rituais ao vento...
orgias e rezas ... seguras de si...

Um dia, percebi a angústia,
a dor do que não sabia,
o pranto pela escuridão ...
pelo tempo ... o tempo ...
a espera cega pelo destino,
aquele destino ... qualquer destino...
Ah! O tempo ... que será de mim?

Um dia, vi que o sol
sempre vem e se vai,
a noite é lua, estrelas ...
mas é breu ... incerteza ...
medo ... medo do instante,
do silêncio ... das horas ...
medo da dor do medo da dor...
medo do nada...

Um dia, olhei pra mim
e não vi nada ... nem sol,
nem noite, nem tempo...
Apenas senti as horas,
o balanço ... o destino ...
uma calma dramática,
fria, oca ... uma noite...
sem lua, estrelas ... nem medos...

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

DE MIM PARA MIM

 

Olhe pra você!
Que tem pra querer,
que sabores, que músicas ...
que promessas?

Olhe ao seu redor!
Que vozes lhe buscam,
que olhares, que perfumes ...
que pensamentos?

Olhe para sua vida!
Que sonhos ficaram,
que esperas, quais ganhos...
quais saudades?

Olhe para o espelho!
Que olhar lhe acena,
que passos, que vida ainda falta...
quais versos?

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

REPASSANDO

 

Quanto verso perdido,
não dito, não gritado,
sufocado!

Quanta vida sem viver,
quanto fôlego afogado,
desperdiçado!

Quanto sonho despertado
antes do tempo,
natimorto!

Quanto, quanto sol
já nasceu, já passou,
e não brilhou!

Quanto de mim
não se tornou amor:
só tristeza!

Quanto me falta,
quanto posso encontrar,
e revelar!

Quanto mais espero,
mais a vida se esvai,
e o céu enegrece!

Quanto, quanto!
É tanto que nem sei
quanto dar ... ou esperar ...

quanto!