“Que estranho”!
Isto
já se tornou uma rotina para mim. Uma sina! Coisa de quem quer ser usuário de
computadores, internet e afins. Basta começar um trabalho com o computador, e o
risco aparece. Uma operação que não se completa, uma sala na qual não consigo
entrar, o som que não escuto (ou o meu, que não vai a quem me espera do outro
lado) ... E, de repente, após apelar aos especialistas em informática de
plantão e explicar meu problema, a fala solene e rotineira: “que estranho”!
O que isso
quer dizer? Bem, já analisei o fato com cuidado, e a quantidade de repetições
me permitiu até teorizar sobre. Geralmente, vem em dose dupla.
Da primeira
vez, a desconfiança de que eu possa ter cometido algum erro. Muitas vezes isso até
acontece. Mas, nos últimos tempos, após ter me policiado para pedir socorro
somente após ter tentado de tudo, é mais comum responder com “sim” às muitas perguntas
sobre se eu tentei isto, aquilo, aqueloutro ... E, nesse caso, vem a outra dose:
aquela que não é direcionada a mim mas à própria pessoa: “que estranho”, como a
traduzir a inquietação secreta em pensamento: “acho que não tenho a menor ideia
sobre o que está acontecendo”. Surge, então, a longa operação de se tentar de
tudo – tudo aquilo que nem passou pela sua cabeça no momento em que pedi ajuda.
E a coisa anda. Até o momento em que, depois de tudo, inclusive vários momentos
de desconexão das redes (elétrica e da internet), a coisa acontece e voltamos a
respirar. Agradeço muito, do fundo do coração. Percebo que a pessoa
especialista sai buscando explicações sobre o que possa ter acontecido. Em
clima de vitória, após minhas efusivas falas de gratidão, o ser iluminado me
abandona e vai, em outra missão, socorrer outro pobre usuário.
Essa
frase parece não ter pátria ou crença: é meio universal. Lembro-me de tê-la escutado
pessoal e virtualmente, in loco ou a
distância. Até internacionalmente – em aulas on line, nas quais percebo que as doces viagens bancadas são coisas
do passado. Sempre a mesma queixa. Sempre a evocação de que a natureza, ainda
que pretensamente dominada, preserva seus mistérios.
A mim,
resta o consolo de que tentei, e tentarei sempre. Afinal, que banal seria a
vida sem os enigmas que, ao fim e ao cabo, vêm valorizar o passe de pessoas,
sistemas e equipamentos. E, não sendo um dos iluminados especialistas em
informática, resta-me saber que participo, de alguma maneira, da dinâmica dessa
gente. Afinal, também eu, após cada acontecimento, não tendo entendido os
porquês das falhas nem os caminhos das vitórias, perplexo, tenho o sagrado direito
de soltar a minha voz: que estranho!
João
Luiz Muzinatti
Setembro
/ 2023