A ndo atrás de uma cena limpa,
R echeada de cores e bailados,
T riste de paixões, alegre de ilusões,
E viva como meu desejo de sol.
A ndo atrás de uma cena limpa,
R echeada de cores e bailados,
T riste de paixões, alegre de ilusões,
E viva como meu desejo de sol.
Qualquer espada é brilho que toca
o corpo e o faz perder sua cor,
dar-se ao absurdo e morrer sem mais.
Nosso desejo, qual arma apontada,
é dor e afronta a sofrer ou ferir.
Pagamos o preço da ilusão, sofremos
o corte cintilante a nos dar ao tempo,
às troças do vazio ... à solidão.
Andamos qual guerreiros apaixonados,
ávidos de vidas que brotam de dor,
beleza que vêm do sangue e luz
a fulgir de sombras e rochas estéreis.
Vivemos do ar, da marcha ao topo,
de canções estranhas a mover-nos,
aves ébrias que ouvem só ecos secos
de mundos escondidos e rotas perdidas.
R uas e becos pela tarde,
A mores e tristezas na noite ...
B em disse, um dia, um poeta:
I sso é mundo, é vida! Espera!
S omos gravura incompleta,
C aminho a se escrever, pintar.
O ensaio, a tentativa. Promessa!
M aior que meu tempo, meus limites,
U ma esfera que caminha para si,
N o escuro nada, me toma e me leva.
D e meus sonhos faz troça, me anima.
O nde encaro, ataco, embosca ... e some.
Quanto vale um poema?
Vale alguma coisa?
Serve para alguma coisa?
Constrói, enriquece, salva, cura?
Versos a rolar pelas páginas
de um livro que nem comprei
a dizer coisas sem nexo,
de quem tem tempo sobrando
a quem anda perdido no tempo?
Eu? Por quê? Tenho mais que fazer!
Não há pedras em meu caminho:
só problemas reais, duros, pesados!
Infinita enquanto dura é minha dívida,
a ser paga amanhã. É nela que penso,
e quase arrebento meus pobres miolos.
Se eu me chamasse Raimundo,
nada mudaria em minha vida: andaria
feito anjo torto, ou pacote bêbado.
Todos esses que aí estão atravancando
meu caminho, continuarão! Impávidos!
As coisas lindas, as findas, vão
e voltam, rodam e enredam, viajam,
e não saem do lugar. Remoinhos!
E eu aqui na praça dando milho,
e atenção a pombos que só voam,
não aterrisssam. Cadê?
Não! Poema não tem valor!
Não serve, não custa, não vende,
não compra, não elege ...
Vou cuidar da minha vida, sério,
atento. O mundo requer foco!
Deixo a poesia para os iludidos,
e vou rodar atado ao mundo,
rolando pela realidade, mergulhando
no mar das certezas.
Pois a vida é certa, a morte, idem,
e meu tempo não voará
além da terra firme, do porto seguro.
Meu verso é meu trabalho, sério,
minha canção é meu suor, solitário.
Acho que me fiz claro!
O resto tem de ser silêncio!
As prosas na manhã me acordam
vindas da janela, furando o cerco
seguro da vida ... a ilusão ... ou medo ...
Como carinho que tropeça
ou canção estranha,
dessas que poucos gostam,
vêm me despertar do nada sagrado
e me chamar para a lida. Agitadas,
me sacodem do remanso racional
e me jogam ao ereto mundo absurdo.
Quanta história! Epopeias secretas
com heróis desconhecidos,
plácidos viventes do mundo cinza,
esse sem o brilho das telas
ou as manchas dos eventos de gala.
Esse mesmo, da heroica jornada
de se viver, de continuar
num mundo que diz não e não
àqueles que insistem fazer frente
e ver alguma cor no fim ...
do que quer que seja ...
Homens fortes e simples,
feitos de brio e fé, obreiros das promessas
andantes de algum futuro que salta
entre seus desejos, alguns reais,
outros alucinados e fugazes.
Constroem, pavimentam o chão
em que outros, menos simples,
com outras forças e verdades,
farão seu caminho seguro
e confortável pela vida: os “de bem”.
Vida é seu estribilho maior, seu coro,
sua nota mais aguda a bailar na brisa.
A sorte paira no ar, entre claves e semibreves,
e como a moça encantada na janela,
brindo a seresta gratuita, agradeço, aplaudo
tímido e indeciso. Agora o mundo é meu.
Findo o vazio, salto para a manhã de fato,
sem nada mais que um sol tímido a brotar
e os versos doces e ritimados que ficam,
balançam e me permitem me apoderar
daquilo que o dia vai me ofertar, daqui a pouco.