segunda-feira, 28 de setembro de 2020

VERSOS ALVOROÇADOS

 

As voltas da vida
empurram-me a mim ...
inexorável vão,
angústia que cria,
dor que se regula ...
Um futuro a se criar.
Uma crença vesga
que brota de um passado
e de um presente ...
desconhecidos.

Uma fábula vivida,
ou sonho insepulto ...
comédia divina ...
quem poderá dizer?
Mágica estranha...
pote de ouro
a espera?

Onde se esconderam
as dores de tanto tempo
e as velas acesas
de tantos devaneios?

Onde?
Importa saber?
De que valem
as linhas de chegada
ultrapassadas, amadas
e esquecidas?

Os desejos em turbilhão
e as noites de poesia
onde os versos se alvoroçaram
e se perderam?

Nada importa!
Só o eu adiante: o único!
Nada além de um ponto
distante ... qual estrela
desconhecida e ínfima.
Nada além de um ser
que se quer,
ou um fragmento de vida
a ser buscado,
desejado ... relâmpago ...
imagem que não se sabe...

Só desejo ... puro ...
Só anseios e promessas
tontas, pueris ... ridículas...
Só isso...
Nada além...

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

ASSALTO

 

As falas das horas,
dos rabiscos da neblina
na janela,
me indagam e me chamam.
Assim, dores, tropeços,
sustos, aconchegos ...
amores, ilusões ...
sonhos apostados, vidas ...
risos gratuitos, lágrimas
ocasionais ou ensaiadas ...
caminhos abertos ou desfeitos...

Tudo me assalta,
turbilhões ou canto de sereia,
socos ou afagos melindrados,
pura angústia "que não tem onde encostar",
me joga e me recolhe,
até onde a vida alcança,
ou meu passo ...

E vivo a dor de viver
sem me saber
e sem saber.
A angústia nefasta
do que pode matar,
ou rica do que pode alçar.

Vivo a flor que se promete,
o riso que se ensaia ...
ou simplesmente me arrojo
a um tempo obscuro.
E os ponteiros continuam
sua jornada fria e cruel ...
a neblina se desfaz aos poucos...
E ando sóbrio
numa direção qualquer...


sexta-feira, 4 de setembro de 2020

CAMINHOS

C omo a ver a terra desaparecer 

A trás da neblina, 

M eu coração se espanta, 

I ndignado até, por perceber 

N exos outros além da razão. 

H á um mundo azul ... e outro... 

O bscuro e triste ... ou iludido... 

S im: viver é desabar ... e tentar voar...

 💐

domingo, 30 de agosto de 2020

SÓ UM ENSAIO

 Com  Cecilia  Crepaldi

 

Desperto na manhã
e as rosas parecem
me negar o brilho,
a cor...

Então, volto ao sonho,
e ele me acolhe,
me desperta,
me chama...
me seduz.

E a vida me toma,
e a estrada me chama ...
e saio a correr,
sem medo ... ou dor...
e vou.

Não paro no chão,
me estatelo e me alço ...
e voo ... voo ...
até ver o mundo ...
até ver que o mundo ...
para e me flerta ...
me imita ...

O que sinto?
O que quero?
Talvez um aceno de razão...
Ou somente uma dor que explique...
ou me alegre ... me perdoe ...
me defina...


sexta-feira, 28 de agosto de 2020

SINOS E BATUQUES

 

Um dia, percebi a vida!
Vi altos rochedos,
flores exuberantes
amores e sonhos a brotar
por todas as partes,
risos incontidos
a se ofertar e prometer...

Vi animações
e oferendas ... melodias ...
sinos e batuques na madrugada,
bocas a dar graças ao tempo,
amores e mais amores ...
festas ao sol, rituais ao vento...
orgias e rezas ... seguras de si...

Um dia, percebi a angústia,
a dor do que não sabia,
o pranto pela escuridão ...
pelo tempo ... o tempo ...
a espera cega pelo destino,
aquele destino ... qualquer destino...
Ah! O tempo ... que será de mim?

Um dia, vi que o sol
sempre vem e se vai,
a noite é lua, estrelas ...
mas é breu ... incerteza ...
medo ... medo do instante,
do silêncio ... das horas ...
medo da dor do medo da dor...
medo do nada...

Um dia, olhei pra mim
e não vi nada ... nem sol,
nem noite, nem tempo...
Apenas senti as horas,
o balanço ... o destino ...
uma calma dramática,
fria, oca ... uma noite...
sem lua, estrelas ... nem medos...

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

DE MIM PARA MIM

 

Olhe pra você!
Que tem pra querer,
que sabores, que músicas ...
que promessas?

Olhe ao seu redor!
Que vozes lhe buscam,
que olhares, que perfumes ...
que pensamentos?

Olhe para sua vida!
Que sonhos ficaram,
que esperas, quais ganhos...
quais saudades?

Olhe para o espelho!
Que olhar lhe acena,
que passos, que vida ainda falta...
quais versos?

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

REPASSANDO

 

Quanto verso perdido,
não dito, não gritado,
sufocado!

Quanta vida sem viver,
quanto fôlego afogado,
desperdiçado!

Quanto sonho despertado
antes do tempo,
natimorto!

Quanto, quanto sol
já nasceu, já passou,
e não brilhou!

Quanto de mim
não se tornou amor:
só tristeza!

Quanto me falta,
quanto posso encontrar,
e revelar!

Quanto mais espero,
mais a vida se esvai,
e o céu enegrece!

Quanto, quanto!
É tanto que nem sei
quanto dar ... ou esperar ...

quanto!

segunda-feira, 27 de julho de 2020

A minha paixão

Como é isso
de sentir paixão?
Depois de uma vida intensa,
de encontros, desencontros,
fantasias e sonhos largos ...
De repente, uma paixão
nova ... sem igual ...

As horas têm outro tempo,
as ruas borbulham flores,
o céu é multicor,
e a noite tem som de valsa...

Os olhos se enamoram ...
... choram ... se inebriam
da simples vida ... se encantam...
A vida flui de todos os lados
e ruma para onde vão as ideias.

E para onde vão ideias,
planos, desejos?
Para que lado vai este humano
sonhador, exagerado,
modesto do presente
e nobre dos sonhos?

Para onde vão antigas verdades,
certezas, dúvidas ... prazeres?
Tudo renasce da paixão,
tudo revira e se ajusta,
em parafuso e nas calmarias.

Como é isso de sentir paixão?
Pouco importa!
O sol me acena da janela,
e eu o sigo,
obedeço ...
Até onde ele quiser!


terça-feira, 2 de junho de 2020

REVIRANDO


Desaba a vida
na noite.
Frio e canções
embebidos de solidão.

Uma nota
me atira
ao tempo que vivi ...

Uma cerveja,
uma luz distante,
e a noite
a revirar

meu mundo:
onde andará
o calor desenhado
há décadas?

sexta-feira, 22 de maio de 2020

ANDANTE


Pobre vida! As pedras do caminho
vêm pesadas , solapam o tempo.
E esse errante, a caminhar sozinho,
sem ter rumo, estranha seu momento

triste ... Porém segue e vai em frente.
Sua estrada aqui anda sem marcação.
Caminha. Nada resta na mente,
a não ser seu passo sem razão?

Ou talvez carregue solidão,
pensamentos sobre o que já foi...
Quem sabe sinta a vida que dói,
e o sonho que lhe escapou das mãos.

Na verdade, parece seguir
sem pensar na razão de sua sina.
Tem razão, em parte: nada ensina,
esclarece ... Aquilo que há de vir

não será logos ou pensamento.
Não! Habita o baú dos lamentos,
das cinzas espalhadas na estrada.
Sua vida ... imagino ... sim: é amada.


quinta-feira, 19 de março de 2020

COVID 19



Espero sinais de vida
por onde quer que, hoje, eu vá.
Tudo no mundo convida
a correr, lutar, ganhar ...

Porém (não entendo por quê),
mesmo quando estamos fortes,
quando a sina é só viver,
nos bate a angústia da morte.

A alegria é só ilusão?
E o mundo, um lugar deserto?
Sim, pois os planos se vão,
se acabam ... que há, aqui, de certo?

Hoje, a vida para, e espera.
e a arrogância nos dá um tempo.
Sim! Somos nada, deveras!
Somos pluma, pó, lamento.

Aqui, andarilho, na praça,
passo por poucas pessoas.
Onde estão? Todos em casa,
a esperar as coisas boas

prometidas ... Ilusões ...
Sim. O fato é que nós todos,
nossas ânsias, as paixões,
daremos um tempo. Tolos,

agora esperamos. Nós,
amantes dos carnavais,
hoje acordamos a sós
conosco. Sim! Nada mais!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O POETA E A FESTA


O poeta e a festa


A noite caiu cálida,
sem alucinados sons
nem ofuscantes signos:
só conversa jogada,
olhares discretos,
vida que se espalha
e se ajeita no tempo.

A moça bonita tenta
falar mais que os olhos,
sorrir, alçar qualquer voo ...
Esconde alguma coisa,
coloca atrás dos dentes,
e tenta voltar pra noite.

O velho solitário
trava um diálogo com o garçom.
A esposa quieta só observa
a noite a se desvelar;
às vezes fita o esposo
e tenta escutar o que lhe diz.

Pobre do cronista,
com tantos encontros,
se vê só, ele e a noite ...
Quem sabe um raio novo,
um sibilar intruso, um grito ...
No mais, um flerte com a noite...
e um gole ... outro ...


quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

LUNÁTICOS CANTANTES


Quando a vida navega
por paisagens áridas
e escuras,
andarilhos resignados,
frágeis guerreiros,
lunáticos cantantes
somos todos aqueles
que ousamos andar com ela.
Somos arautos do absurdo,
religiosos do trágico.
Somos personagens sensatos
(únicos, iluminados):
aqueles que seguem
a única viagem possível.

TEU ODISSEU



Teus olhos,
como a noite escura,
me fazem perder o rumo.

Tua boca,
qual canto de sereia
me atira ao mais longínquo
paraíso de perfumes e melodias.