As prosas na manhã me acordam
vindas da janela, furando o cerco
seguro da vida ... a ilusão ... ou medo ...
Como carinho que tropeça
ou canção estranha,
dessas que poucos gostam,
vêm me despertar do nada sagrado
e me chamar para a lida. Agitadas,
me sacodem do remanso racional
e me jogam ao ereto mundo absurdo.
Quanta história! Epopeias secretas
com heróis desconhecidos,
plácidos viventes do mundo cinza,
esse sem o brilho das telas
ou as manchas dos eventos de gala.
Esse mesmo, da heroica jornada
de se viver, de continuar
num mundo que diz não e não
àqueles que insistem fazer frente
e ver alguma cor no fim ...
do que quer que seja ...
Homens fortes e simples,
feitos de brio e fé, obreiros das promessas
andantes de algum futuro que salta
entre seus desejos, alguns reais,
outros alucinados e fugazes.
Constroem, pavimentam o chão
em que outros, menos simples,
com outras forças e verdades,
farão seu caminho seguro
e confortável pela vida: os “de bem”.
Vida é seu estribilho maior, seu coro,
sua nota mais aguda a bailar na brisa.
A sorte paira no ar, entre claves e semibreves,
e como a moça encantada na janela,
brindo a seresta gratuita, agradeço, aplaudo
tímido e indeciso. Agora o mundo é meu.
Findo o vazio, salto para a manhã de fato,
sem nada mais que um sol tímido a brotar
e os versos doces e ritimados que ficam,
balançam e me permitem me apoderar
daquilo que o dia vai me ofertar, daqui a pouco.
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