S ensações! Não só o numérico.
I magens, medos e vontades ...
S ombras que dançam, apontam,
T roçam de nossos olhos baixos,
E mbalam nossa andança ao futuro.
M eu braço a trabalhar, minha mente
A projetar, meu sangue ... Sou o quê?
S ensações! Não só o numérico.
I magens, medos e vontades ...
S ombras que dançam, apontam,
T roçam de nossos olhos baixos,
E mbalam nossa andança ao futuro.
M eu braço a trabalhar, minha mente
A projetar, meu sangue ... Sou o quê?
No sabor das vitórias falsas
e à sombra de verdades eternas,
corre um vulto maltrapilho,
ávido de olhares e carente de si;
exausto por opção e vocação,
herói de um tempo que não se sabe
nem se pode rabiscar ou sonhar.
Quem é esse atleta do sentido,
poeta dos delírios ... artista da noite?
Um viajante a serviço de alguma fé,
arauto de escritos com pretensão
de eternidade, de certezas?
Não pensa na estrada: tropeça,
esbarra ... rola ... Sua arte é premente.
Caio do estridente murmúrio
de uma manhã ingênua,
atolado em dúvidas
e ideias transformadoras,
apócrifos tratados de futuro
ou desejos ondulantes
a se estourar no real ...
De cabeça, viajo entre a dor
e os remédios fugazes,
ilusórios e sem graça,
de uma vida que não se mostra,
enfim. Invento crer. Pobres de nós!
A toada da manhã seduz,
o sol se mostra ... e brinco de viver.
"Justiça
não foi feita pra pobre, moço"!
Os olhos vazios,
a fala reta, certeira ...
mas o tom ...
sem música, sem eco.
A mulher negra,
solidão a fazer-se gente,
larga história
a se repetir sem censura.
O filho,
jovem à espera do mundo,
vida a festejar-se
na melodia da noite,
de repente apartada, expulsa,
impedido no ódio
moldado por senhores
e senhoras piedosas ... do bem.
A morte, sem mais,
a compor o dia-a-dia
do real ... lógica ... normal.
Reclames ...
"Ora, é a vida"!
Aquilo que veio, um dia,
tal qual verdade revelada,
quase natural,
modelo e tamanho padrões.
Uma vida a menos, e daí?
Um sol que se apagou,
mas são tantos ... os nossos ...
Razão invertida, abortada:
a mãe a sepultar o filho ...
Calma! Caminhemos!
É a vida a seguir seu curso.
C omo a manhã a desvelar
O caminho e os atalhos,
N ovas notas me tocam:
S ons outrora perdidos
C ompõem ritmos novos.
I magens e melodias voltam,
Ê xtases antigos despencam
N o banal dos dias, das horas.
C omo menino, encontro a cor
I rradiada, nova ... Sou ideia,
A fago, brisa, rocha. Sou vida!
S im! Não ando atrás de verdades,
E fujo das tais crenças (ou doutrinas).
N os dias e noites vou percebendo
T amanha beleza ... Há dores e risos,
I magens misturadas, caminhos ...
D e um universo imenso, sou fagulha,
O u acaso; mas abarco tudo. Não basta
?
A ndo atrás de uma cena limpa,
R echeada de cores e bailados,
T riste de paixões, alegre de ilusões,
E viva como meu desejo de sol.
Qualquer espada é brilho que toca
o corpo e o faz perder sua cor,
dar-se ao absurdo e morrer sem mais.
Nosso desejo, qual arma apontada,
é dor e afronta a sofrer ou ferir.
Pagamos o preço da ilusão, sofremos
o corte cintilante a nos dar ao tempo,
às troças do vazio ... à solidão.
Andamos qual guerreiros apaixonados,
ávidos de vidas que brotam de dor,
beleza que vêm do sangue e luz
a fulgir de sombras e rochas estéreis.
Vivemos do ar, da marcha ao topo,
de canções estranhas a mover-nos,
aves ébrias que ouvem só ecos secos
de mundos escondidos e rotas perdidas.
R uas e becos pela tarde,
A mores e tristezas na noite ...
B em disse, um dia, um poeta:
I sso é mundo, é vida! Espera!
S omos gravura incompleta,
C aminho a se escrever, pintar.
O ensaio, a tentativa. Promessa!
M aior que meu tempo, meus limites,
U ma esfera que caminha para si,
N o escuro nada, me toma e me leva.
D e meus sonhos faz troça, me anima.
O nde encaro, ataco, embosca ... e some.
Quanto vale um poema?
Vale alguma coisa?
Serve para alguma coisa?
Constrói, enriquece, salva, cura?
Versos a rolar pelas páginas
de um livro que nem comprei
a dizer coisas sem nexo,
de quem tem tempo sobrando
a quem anda perdido no tempo?
Eu? Por quê? Tenho mais que fazer!
Não há pedras em meu caminho:
só problemas reais, duros, pesados!
Infinita enquanto dura é minha dívida,
a ser paga amanhã. É nela que penso,
e quase arrebento meus pobres miolos.
Se eu me chamasse Raimundo,
nada mudaria em minha vida: andaria
feito anjo torto, ou pacote bêbado.
Todos esses que aí estão atravancando
meu caminho, continuarão! Impávidos!
As coisas lindas, as findas, vão
e voltam, rodam e enredam, viajam,
e não saem do lugar. Remoinhos!
E eu aqui na praça dando milho,
e atenção a pombos que só voam,
não aterrisssam. Cadê?
Não! Poema não tem valor!
Não serve, não custa, não vende,
não compra, não elege ...
Vou cuidar da minha vida, sério,
atento. O mundo requer foco!
Deixo a poesia para os iludidos,
e vou rodar atado ao mundo,
rolando pela realidade, mergulhando
no mar das certezas.
Pois a vida é certa, a morte, idem,
e meu tempo não voará
além da terra firme, do porto seguro.
Meu verso é meu trabalho, sério,
minha canção é meu suor, solitário.
Acho que me fiz claro!
O resto tem de ser silêncio!
As prosas na manhã me acordam
vindas da janela, furando o cerco
seguro da vida ... a ilusão ... ou medo ...
Como carinho que tropeça
ou canção estranha,
dessas que poucos gostam,
vêm me despertar do nada sagrado
e me chamar para a lida. Agitadas,
me sacodem do remanso racional
e me jogam ao ereto mundo absurdo.
Quanta história! Epopeias secretas
com heróis desconhecidos,
plácidos viventes do mundo cinza,
esse sem o brilho das telas
ou as manchas dos eventos de gala.
Esse mesmo, da heroica jornada
de se viver, de continuar
num mundo que diz não e não
àqueles que insistem fazer frente
e ver alguma cor no fim ...
do que quer que seja ...
Homens fortes e simples,
feitos de brio e fé, obreiros das promessas
andantes de algum futuro que salta
entre seus desejos, alguns reais,
outros alucinados e fugazes.
Constroem, pavimentam o chão
em que outros, menos simples,
com outras forças e verdades,
farão seu caminho seguro
e confortável pela vida: os “de bem”.
Vida é seu estribilho maior, seu coro,
sua nota mais aguda a bailar na brisa.
A sorte paira no ar, entre claves e semibreves,
e como a moça encantada na janela,
brindo a seresta gratuita, agradeço, aplaudo
tímido e indeciso. Agora o mundo é meu.
Findo o vazio, salto para a manhã de fato,
sem nada mais que um sol tímido a brotar
e os versos doces e ritimados que ficam,
balançam e me permitem me apoderar
daquilo que o dia vai me ofertar, daqui a pouco.
Onde o céu despeja seu azul
meu olhar se atira e se perde.
Órfão das verdades da infância
e dos futuros radiantes,
acabo abalroado pelo trem
do real, rochedo impávido, sisudo
gigante a ordenar e punir. Tirano!
Faltam-me forças. Ou, guerreiro,
não passo de ínfima larva
a se agitar, pedir clemência
ou se jogar à sorte, inerte,
apenas sedenta de rastros
de frescor, miragens forjadas
ou afago falso de deusas estéreis?
Ordeno-me os olhos, escravos
eventuais da estação, tímidos
mensageiros de toda sorte
de esperanças, fatalidades ...
Subo por eles ao topo da manhã,
ensaio elogios, me rebaixo, rastejo.
Faço-me, enfim, mancha ... cisco.
A s rotas da vida se me cerraram cedo.
B astou sentir de leve o vento da tarde,
S oou, então, a nota triste e o aceno do real.
U m sonho não vive. Voa e se arrebenta.
R esta o sol queimando, o peso das pedras ...
D e mim, abraços ao mundo, o todo, o tudo.
O tempo me leva, e eu me aguento ... e amo!
Já estive em tantos lugares,
mas a vida me leva sempre
aos labirintos da noite,
aos redutos de solidão,
pobres e tristes vãos da vida.
As canções me dizem
sempre o mesmo:
sou tristeza que se arroja
pelos desvios da espera:
andarilho natural e fiel.
Hoje, venho mais uma vez
me haver com saudades,
ilusões e promessas
que passaram, luziram
e me fizeram ser quem sou.
A noite acorda-me
de um sonho estreito:
melodias fundidas, opacas,
como a própria dor do nada
ou do breu opressor das horas.
Sou verso quebrado
a verter na noite
um sabor amargo de solidão.
Sou prosa rota, silvo breve,
estribilho a buscar-se
no silêncio. Voz que cala
ante o coro de certezas
e belezas santas.
Sou da cor da noite,
invisível grito feito pó,
amor esquecido, rima impossível.
Sou tempo desperdiçado,
aquele que se quis
e se esqueceu.
Ah, meu sono!
De noite, a busca do afago
da noite, do vazio,
O som do fim
da vida
do dia,
a cômoda relva
macia ... acolhida sublime
ao corpo que, da guerra do dia,
escapou e venceu.
Venceu?
Quem sabe outra mirada ...
Talvez uma carícia piedosa
ao pobre diabo,
vencido pela força
cruel e astuta da vida.
Um pobre a se aninhar
no ventre da noite ...
e se entregar!
Até que o mundo invente
o novo. Novas estradas,
novos guerreiros.
Ah! Meu sono.
Meu tempo
só meu,
sem tempo,
nem nada.
Até que a vida retorne.
Sou ninguém!
Sou a imagem que se borra
nas ruas, andarilha a se mover
feito cisco ou mosca, gota errante,
cor perdida entre os tons da manhã.
Frágil bruma que qualquer vento desfaz,
mutante e sem qualquer razão de ser,
Sou ninguém!
A palavra dita que não se ouve,
a ideia que, de tão banal, nunca voa,
pensamento ora alucinado, ora pobre e débil.
Lamento ou vantagem cantada, professada,
a entrar em parafuso, na dor de um bar qualquer,
sem plateia que não a mente que nada engendra.
Sou ninguém!
Solitário dentro da massa, obstáculo,
pedra pisoteada. Parte na forma do todo
sem que possa alguém se aperceber,
gás neutro a compor a atmosfera,
sem me dar conta. Ando altivo, orgulhoso,
sendo o único a me ver no tempo, na vida.
Sou ninguém!
Ah! Mas que divina condição! Vivo liberdade!
Sou desimportante, desinteressante, sem sal!
Não daria boa manchete, nem moveria gentes.
Ninguém me há de querer como exemplo,
pois a vida só me pôs para seguir. Que bom!
Da vida tiro o que me cabe. E isso não me tiram.
C aem gotas de orvalho ... ou notas de opereta
R egando meu desejo de vida, minha razão.
I nvoco deuses, epopeias, poemas antigos,
A casos e planos marcados na história, conflitos.
N o calor da vida, tento me dar conta, entender ...
C ada dia, encontro-me entre raso e alegre:
A vida aí rebrilha, e alerta: poderia ser diferente.