Quanto vale um poema?
Vale alguma coisa?
Serve para alguma coisa?
Constrói, enriquece, salva, cura?
Versos a rolar pelas páginas
de um livro que nem comprei
a dizer coisas sem nexo,
de quem tem tempo sobrando
a quem anda perdido no tempo?
Eu? Por quê? Tenho mais que fazer!
Não há pedras em meu caminho:
só problemas reais, duros, pesados!
Infinita enquanto dura é minha dívida,
a ser paga amanhã. É nela que penso,
e quase arrebento meus pobres miolos.
Se eu me chamasse Raimundo,
nada mudaria em minha vida: andaria
feito anjo torto, ou pacote bêbado.
Todos esses que aí estão atravancando
meu caminho, continuarão! Impávidos!
As coisas lindas, as findas, vão
e voltam, rodam e enredam, viajam,
e não saem do lugar. Remoinhos!
E eu aqui na praça dando milho,
e atenção a pombos que só voam,
não aterrisssam. Cadê?
Não! Poema não tem valor!
Não serve, não custa, não vende,
não compra, não elege ...
Vou cuidar da minha vida, sério,
atento. O mundo requer foco!
Deixo a poesia para os iludidos,
e vou rodar atado ao mundo,
rolando pela realidade, mergulhando
no mar das certezas.
Pois a vida é certa, a morte, idem,
e meu tempo não voará
além da terra firme, do porto seguro.
Meu verso é meu trabalho, sério,
minha canção é meu suor, solitário.
Acho que me fiz claro!
O resto tem de ser silêncio!