quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
TEU POEMA
Não sei do futuro
nem do presente.
De brinde, a vida me dá
mais vida!
Agradeço!
De presente
eu faço o futuro:
da dor, sonho,
do chão, céus,
da ladeira, um olhar.
Do amor,
não sei nada.
A vida me deu muito,
me empanturrou.
Vivi e amei
mais que a vida.
E a vida passou!
Os amores se deram,
fizeram, dançaram,
viveram
até não mais se poder.
E amei demais.
E te amei,
como nunca,
como a nada,
como um cantor
perdido e endeusado.
Como um rei!
Minha rainha,
foste a estrada
e os atalhos,
o canteiro e a rosa,
a visão
e o sol que a desenha.
E me fui,
e te foste.
Hoje,
o que resta?
Amor que se recorda,
amor a se cantar
em versos, notas
e saudades.
Puro amor!
Amor de verdade,
como só a vida finita
consegue rabiscar
em cores eternas
e traços impossíveis.
Amor único,
eterno, imortal.
Enquanto existir
mundo, átomos,
energia, vazio,
meus versos pra ti
ajudarão a compor
a eterna antologia
do Amor!
sexta-feira, 25 de maio de 2018
Desaba a vida
Desaba a vida
na noite.
Frio e canções
embebidos
de solidão.
Uma nota
me atira ao tempo
que vivi ...
Uma cerveja,
uma luz distante,
e a noite a revirar
meu mundo:
onde andará
o calor desenhado
há décadas?
na noite.
Frio e canções
embebidos
de solidão.
Uma nota
me atira ao tempo
que vivi ...
Uma cerveja,
uma luz distante,
e a noite a revirar
meu mundo:
onde andará
o calor desenhado
há décadas?
domingo, 13 de maio de 2018
DIA DAS MÃES
Oi, mãe!
Hoje eu não posso
te dar um presente,
um beijo,
nem um telefonema.
Não posso te dizer
que te adoro.
Nem vou te sentir,
me colar a ti.
Não vou ver o sol
a desenhar o mundo
lindo!
Hoje, tu estarás aqui,
sem me olhar,
me criticar,
nem me dizer que sou
lindo, estranho ...
único.
Que estranho, mãe!
Um domingo deste,
sem teu prato pronto
pra mim!
Só silêncio, mãe!
Cadê tua graça,
teu espanto, teu riso
esperto, complacente?
Cadê tua certeza,
tua crítica letal
a tudo que é falso,
tua ira a este mundo?
Por que, mãe?
Por que te foste?
Eu sei: teu direito.
Sei! Tu nos deste
a liberdade de escolher.
Mas, ir embora?
Assim?
Hoje, não vejo o sol,
nem vejo alguém
a me abrir o portão.
Hoje, só o silêncio
da rua, das panelas,
da TV.
Hoje, nada mais resta
a não ser uma luz
que insiste em entrar
pela fresta da cortina.
Um sinal de vida acesa,
a continuar ... viver ...
Mas, que vida será essa?
Que vida é essa
sem tua vida?
João
Hoje eu não posso
te dar um presente,
um beijo,
nem um telefonema.
Não posso te dizer
que te adoro.
Nem vou te sentir,
me colar a ti.
Não vou ver o sol
a desenhar o mundo
lindo!
Hoje, tu estarás aqui,
sem me olhar,
me criticar,
nem me dizer que sou
lindo, estranho ...
único.
Que estranho, mãe!
Um domingo deste,
sem teu prato pronto
pra mim!
Só silêncio, mãe!
Cadê tua graça,
teu espanto, teu riso
esperto, complacente?
Cadê tua certeza,
tua crítica letal
a tudo que é falso,
tua ira a este mundo?
Por que, mãe?
Por que te foste?
Eu sei: teu direito.
Sei! Tu nos deste
a liberdade de escolher.
Mas, ir embora?
Assim?
Hoje, não vejo o sol,
nem vejo alguém
a me abrir o portão.
Hoje, só o silêncio
da rua, das panelas,
da TV.
Hoje, nada mais resta
a não ser uma luz
que insiste em entrar
pela fresta da cortina.
Um sinal de vida acesa,
a continuar ... viver ...
Mas, que vida será essa?
Que vida é essa
sem tua vida?
João
segunda-feira, 7 de maio de 2018
BARZINHO
A noite caiu cálida,
sem alucinados sons
nem ofuscantes signos:
só conversa jogada,
olhares discretos,
vida que se espalha
e se ajeita no tempo.
A moça bonita tenta
falar mais que os olhos,
sorrir, alçar qualquer voo ...
Esconde alguma coisa,
coloca atrás dos dentes,
e tenta voltar pra noite.
O velho solitário
trava um diálogo com o garçom.
A esposa quieta só observa
a noite a se desvelar;
às vezes fita o esposo
e tenta escutar o que lhe diz.
Pobre do cronista,
com tantos encontros,
se vê só, ele e a noite ...
Quem sabe um raio novo,
um sibilar intruso, um grito ...
No mais, um flerte com a noite...
e um gole ... outro ...
sem alucinados sons
nem ofuscantes signos:
só conversa jogada,
olhares discretos,
vida que se espalha
e se ajeita no tempo.
A moça bonita tenta
falar mais que os olhos,
sorrir, alçar qualquer voo ...
Esconde alguma coisa,
coloca atrás dos dentes,
e tenta voltar pra noite.
O velho solitário
trava um diálogo com o garçom.
A esposa quieta só observa
a noite a se desvelar;
às vezes fita o esposo
e tenta escutar o que lhe diz.
Pobre do cronista,
com tantos encontros,
se vê só, ele e a noite ...
Quem sabe um raio novo,
um sibilar intruso, um grito ...
No mais, um flerte com a noite...
e um gole ... outro ...
domingo, 18 de março de 2018
RÁPIDA REFLEXÃO - E MEIO SEM QUERER ..
Manhã
de domingo! Um café na padaria, como acontece quase sempre. Depois, contrariando
prescrição médica, um cigarro, enquanto penso no que poderá ser o domingo e a
semana que se iniciam. Sentado num degrau do estacionamento, leio artigos do
jornal de domingo. E praticamente todos me mostram um panorama sombrio. Marielle Franco é o foco das matérias;
e não poderia mesmo ser diferente. Afinal, até mesmo o mais pessimista entre nós
não pensaria, há uma semana, que um assassinato tão brutal viesse a acontecer. Um
crime violento justamente contra uma defensora de direitos dos mais humildes,
além de ser uma voz eloquente contra os abusos do poder (institucional ou não).
Jânio
de Freitas, Hélio Gaspari e Ruy Castro
nos alertando para o que podemos resgatar na história mais ou menos recente de
nosso país: cenas parecidas, correlatas e com a mesma sinalização deste
assassinato brutal. Vejo, também, Hélio Schwartsman discutindo se as conquistas
iluministas nos trouxeram de fato vida melhor. E, para coroar essa coletânea de
indagações mais do que oportunas – porém tristes - a desafiar o lindo dia que
começa, o querido Antonio Prata a dizer que, apesar de seu ofício ser a crônica,
uma forma de “instalar sorrisos no
canto da boca e não a liberação de gritos engasgados na garganta”, hoje é
diferente. Sim, pois, hoje é “um destes dias em que perco a batalha, em que a
busca pela delicadeza é pisoteada pelo mamute da revolta”.
Não
sei o que penso. Minutos antes, discutia – por whatssap - com uma amiga que
vive num país muito distante sobre ter ou não fé na profissão (que abraço há
mais de 37 anos) de professor. Terá valido a pena? Que ânimos podem me fazer
continuar? Como driblar o desalento e recolher forças para continuar a fazer a única
coisa que acho que sei fazer? E, principalmente, como encontrar (ou construir
novas) forças para continuar neste percurso? Afinal, sinto que já vi este filme
antes. E já o estudei muito, nos textos de História do Brasil, quando procurei
saber o que acontecera antes de me dar conta de mim. E, como sei que acontece
com a maioria das pessoas que valorizam a vida, minha tarefa aqui é encontrar,
sim, paliativos ou visões ideais que possam me fazer viver mais ... (Aqui, quis
colocar complementos, adjetivos, advérbios ... mas sinto que a frase fará também
grande sentido se terminar somente com o “mais”.)
De
repente, um senhor, a quem apresento como Carlos S., me saúda e inicia um papo
rápido. Dizendo ter 82 anos de idade, afirma que viveu os bons tempos desta
cidade. Há 60 anos, relata, chegou de Portugal e se instalou bem aqui no
bairro. Diz ter iniciado um empreendimento que se fez vitorioso. Que sua vida
seguiu o rumo da grandeza que era o nosso país, o qual oferecia condições a
todos os que quisessem viver em paz, e com uma certa dignidade. Mas, lamenta -
com toda a sinceridade que uma atitude descontraída pode nos assegurar – o rumo
que as coisas tomaram.
“Hoje”
– afirma, com ar sério – “a violência tomou conta deste país. As coisas estão
sempre piorando; não sei onde isso vai parar”. Em sua fala, um lamento sincero
de quem tem filhos, netos e (pode ser) até bisnetos. A fala de quem gostaria
que tudo fosse diferente. Ou, ao menos, que as coisas não houvessem
degringolado como aconteceu. O lamento emblemático de um estrangeiro que se
tornou até mais brasileiro do que muitos de nós. Uma fala contundente que me dá
argumentos suficientes, dentro da minha reflexão eventual, para que eu abandone
tudo e vá criar galinhas no interior. Penso, então: “este homem está me dizendo
para desistir. É isto”! Porém, quase ao se despedir, pergunta o que faço e se
encanta ao saber que dou aulas de filosofia, e que tenho grupos de alunos por
Skype.
“O
senhor dá aulas à distância? Que bom! Gostaria de participar! Mas, preciso de
alguém que me ensine direito como operar o computador. Sabe como são as coisas:
na minha idade é mais complicado”. E
deixa um recado no ar, enquanto recebe o meu cartão: “é preciso aprender como
funciona este mundo; se não, as coisas ficarão cada vez mais complicadas para
todos nós”. Depois, despede-se, acompanhado pela simpática esposa que acaba de
chegar, e garante que vai me ligar. Parte sorridente e me deixa perplexo. Mais
que isto, admirado.
Em
nenhum momento valoriza minha ideia de ir para o interior criar galinhas ou
porcos – a única tecnologia que domino razoavelmente, a ponto de iniciar “vida
nova”. Pelo contrário, me ensina docemente: “as coisas estão do mesmo jeito em
toda parte: tudo precisa ser diferente, em qualquer lugar”.
Minha
cabeça, feito turbilhão, dá voltas e parece alternar voos estratosféricos com caminhadas
lentas e suaves pela relva inocente. Não sei mais o que pensar. De repente, me
olho e encontro um vazio. Estou oco ... Sem parâmetros, sem nenhuma certeza,
sem nada. Meu futuro? Que futuro? E fico pensando que aquele homem talvez seja
um sonho que me acomete acordado. Pode ser um embusteiro a fim de me confundir
... Ou, ouso pensar com um “riso no canto da boca”: “talvez seja a alma do
Sartre que resolveu vir brincar comigo e dizer, pela boca do velhinho, que ‘não
importa o que nos fizeram: seremos aquilo que fizermos com o que foi feito de nós’”.
Olho
para o meu bolso e percebo que os cigarros acabaram. Meu bolso também está
vazio. E parto para o carro, sem nada mais na mente. Só a certeza de que este
encontro eventual me despiu, me lavou ... e me trouxe de volta ao velho nada. Bora
preencher isto, então! Mas, como? De que jeito? Acho que vou voltar à padaria e
comprar outro maço de cigarros.
João
Luiz Muzinatti
18 03
2018
terça-feira, 13 de fevereiro de 2018
Aposta perdida
No mundo em que vivo, neste mesmo,
a dor é mestra. As ruas são palcos,
frios e revirados. Parecem labirintos,
repletos de armadilhas, tropeços,
sonhos incontáveis, planos gigantescos.
Sóis pálidos que surgem e se perdem: somem.
O que posso querer, aqui? Amor?
Mas que palavra é esta? Estranha!
Uma fagulha num imenso breu ...
Ilusão adornada, robusta ... fugaz. E só!
De onde vem, e por que vem? E eu lá sei?
Será que não se trata de um delírio, apenas?
Que trazer de mim, nesta jornada?
Não me vejo como personagem raro
nesse meio enredo chamado vida,
onde o querer esbarra em pedras tortas,
pântanos e abismos. Não! Eu Não!
Sou folha leve: qualquer vento me traga.
Que esperar disso tudo? Brisa, sombra,
atalhos encantados, beleza? Eu? Justo eu?
De que me valem anos de estrada,
se as vistas se turvam e os sonhos
(poucos) já desabam? Milagres? Magias?
A vida foi jogo, aposta. E acho que perdi!
Que fazer, então, com isto que sobrou?
Afinal, ainda restam manhãs e luas novas,
e a vida sempre insistirá em pulsar.
Talvez um passeio por bosques silenciosos,
aqueles que não gritam nem se atrevem.
Ou pelas canções - a velha música - e dancar...
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
O QUE É O MEU AMOR
O que é o meu amor?
Ora, será que é alguma coisa?
Será que se constitui como algo em si?
Será que se materializa em presentes, gestos, lágrimas ou desesperos?
Posso garantir que ocupe um lugar qualquer, ainda que no intangível?
Quando penso nele, algo acontece. Parece que me assalta, se esconde, me atropela ... desaparece!
Não sei nem se posso evocá-lo de fato.
Só o que sei é que algo me toma, de repente, me faz intrépido, sonhador, abusado, voador, solitário, cantor, emudecido, afável ou violento.
A vida me joga de tudo, mas sinto que há algo que rebato e um tanto que assimilo.
O sol me ilumina tudo, mas meus olhos só veem uma parte.
A lógica né dita normas, regras, caminhos, mas, às vezes, o mais seguro para mim vem por acaso.
Estar vivo é bem supremo, mas, acreditem, tem hora que prefiro morrer para que alguma coisa não morra.
Será que tem a ver com esse tal de amor? Será que inventou-se esta palavra por não se compreender tais incoerências?
Bem diante de mim, ou dentro de mim, algo me surge. Não consigo capturá-lo. E ele vai, volta, vai , volta...
Amor?
Não sei! Só sei que, sem ele, a vida seria como uma linha reta, infinita... Sem qualquer outra direção possível. Só isso! Nada mais.
Ora, será que é alguma coisa?
Será que se constitui como algo em si?
Será que se materializa em presentes, gestos, lágrimas ou desesperos?
Posso garantir que ocupe um lugar qualquer, ainda que no intangível?
Quando penso nele, algo acontece. Parece que me assalta, se esconde, me atropela ... desaparece!
Não sei nem se posso evocá-lo de fato.
Só o que sei é que algo me toma, de repente, me faz intrépido, sonhador, abusado, voador, solitário, cantor, emudecido, afável ou violento.
A vida me joga de tudo, mas sinto que há algo que rebato e um tanto que assimilo.
O sol me ilumina tudo, mas meus olhos só veem uma parte.
A lógica né dita normas, regras, caminhos, mas, às vezes, o mais seguro para mim vem por acaso.
Estar vivo é bem supremo, mas, acreditem, tem hora que prefiro morrer para que alguma coisa não morra.
Será que tem a ver com esse tal de amor? Será que inventou-se esta palavra por não se compreender tais incoerências?
Bem diante de mim, ou dentro de mim, algo me surge. Não consigo capturá-lo. E ele vai, volta, vai , volta...
Amor?
Não sei! Só sei que, sem ele, a vida seria como uma linha reta, infinita... Sem qualquer outra direção possível. Só isso! Nada mais.
sábado, 20 de janeiro de 2018
POEMA À MÃE QUE SE FOI
Por que te foste? E nós?
Nunca nos disseste que a vida
poderia continuar sem ti.
Não nos ensinaste essa parte.
E agora? Que será de nós?
Aonde levaremos nossas dores?
De onde tirar a graça de viver?
Qual a graça, agora, se te foste?
Tu nos deste o amor pela vida!
Agora, te apartas desta vida ...
Por que? Aonde foste, afinal?
Que há de maior que o sol?
Por que? Por que te foste?
Onde haveremos de te encontrar ?
Se soubéssemos que viver é tão triste...
Ah! Por que não nos ensinaste?
Nunca nos disseste que a vida
poderia continuar sem ti.
Não nos ensinaste essa parte.
E agora? Que será de nós?
Aonde levaremos nossas dores?
De onde tirar a graça de viver?
Qual a graça, agora, se te foste?
Tu nos deste o amor pela vida!
Agora, te apartas desta vida ...
Por que? Aonde foste, afinal?
Que há de maior que o sol?
Por que? Por que te foste?
Onde haveremos de te encontrar ?
Se soubéssemos que viver é tão triste...
Ah! Por que não nos ensinaste?
sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
UMA MANHÃ... E SÓ...
Uma manhã de verão
e só!
As ruas se movem,
tímidas,
cinzas...
Alguns olhares,
cabeças baixas...
solidão compartilhada...
Um café consola,
um sorriso da balconista...
A trilha incerta da vida
acena de janelas
e carros que cantam e dançam.
O homem ao meu lado,
também a confiar no café,
parece soldado
na mesma trincheira...
Somos iguais!
Vozes caladas e corações atentos,
esperanças distintas,
tão próximas,
cúmplices,
ambos queremos o ar
puro e gratuito
de uma liberdade estranha,
desconhecida,
mas sagrada, sonhada...
Dois homens, dois cigarros,
duas histórias que se atrelam,
se misturam
e se negam.
A vida nos bate forte
em repentino golpe da brisa;
nos olhamos,
desviamos as visões.
Seguimos estáticos
nossos caminhos...
O tempo nos acena:
o dia não espera,
a morte está vigilante...
Talvez outro café,
mais um cigarro?
E, quem sabe, outros olhares,
outras brisas...
A manhã segue,
e nós a seguimos...
até onde ela quiser...
e só!
As ruas se movem,
tímidas,
cinzas...
Alguns olhares,
cabeças baixas...
solidão compartilhada...
Um café consola,
um sorriso da balconista...
A trilha incerta da vida
acena de janelas
e carros que cantam e dançam.
O homem ao meu lado,
também a confiar no café,
parece soldado
na mesma trincheira...
Somos iguais!
Vozes caladas e corações atentos,
esperanças distintas,
tão próximas,
cúmplices,
ambos queremos o ar
puro e gratuito
de uma liberdade estranha,
desconhecida,
mas sagrada, sonhada...
Dois homens, dois cigarros,
duas histórias que se atrelam,
se misturam
e se negam.
A vida nos bate forte
em repentino golpe da brisa;
nos olhamos,
desviamos as visões.
Seguimos estáticos
nossos caminhos...
O tempo nos acena:
o dia não espera,
a morte está vigilante...
Talvez outro café,
mais um cigarro?
E, quem sabe, outros olhares,
outras brisas...
A manhã segue,
e nós a seguimos...
até onde ela quiser...
segunda-feira, 1 de janeiro de 2018
VIVER SEM PAIXÃO
Que pode o humano sem paixão?
Um viver vazio, insosso,
perdido...
Sem o pulsar de vida
em doses de febre delirante,
sem o sonho repentino
em cada pensamento,
em cada passo... de que vale a vida?
Quem pode, das voltas do mundo,
do desenho das estrelas,
do riso da criança,
retirar alguma beleza,
se em seu peito não estremece
um coração apaixonado?
Que é viver, se as horas passam
apenas, sem trazer esperança,
desejo ou angústia?
Que pode o humano sem paixão,
sem a dor da tarde solitária,
o estridente silêncio de um telefone
ou a cantiga suave de um bilhete que chega?
Que é viver sem paixão?
Talvez trocar o universo pelo nada ...
Ou tingir a morte de azul... falso...
Fazer do vazio uma vida de mentira...