Um espaço finito
ou a vida que não se cabe?
O mundo anda, espera,
se desvela ... e se esconde,
tortura, acalma, se insinua.
O sol se mostra soberano,
mas, como nós, finito,
caminha qual condenado
que ameaça, grita
e se lamenta mortal.
Pobres somos! Pobres
se fazem as promessas,
os rabiscos pretenciosos,
as rimas eloquentes
que se querem rebeldes,
libertadoras.
Tristes as visões
que se apagam na poeira
do caminho real ... e insensível.
Tristes os apegos iludidos,
oásis falsos, sedutores
de vida e desejos ... de fins.
Porém, de tanto breu,
de tanta farra sinuosa,
brota um ar mais fresco:
a dor que se espalha
e se dilui nas passadas,
a lágrima que, de tanto ofuscar,
brilha e decora,
o absurdo, que de tão inóspito,
se declara e instaura
a única vida ... o único
céu viável, a única jornada,
a única verdade ...
Então, filhos cientes do opaco
e da ladeira, órfãos das imagens
perfeitas e coloridas,
aportamos no único regaço
que nos acolhe e acalenta:
o real!
Nele navegamos ...
e dele vivemos ...
sem mais.
João Luiz Muzinatti