Primeiro de maio!
Na janela do feriado,
quem precisa de TV
ou Ipad,
luzes inventadas,
promessas de vida melhor . . .
Brota um sol esfumaçado,
do quadrado eloquente
da manhã quieta
e despretensiosa. Vida, quase . . .
Corpos e energias a se misturar
com paredes, cimento, desejos,
risos e sonhos, professados, ou inconfessos.
Movimento!
Dança metafísica ou mera contingência . . .
Mundo a se fazer
como sempre,
"desde sempre".
Homens quase invisíveis,
que se desvelam como massa,
operários a se enroscar
no ballet da história,
velha coreografia do rico,
vasto e livre mundo.
Mais um prédio a ser gestado,
mais vidas, dramas
e mais vidas . . .
mais história a se escrever.
Homens quebram
e reconstroem
a cidade e o cenário,
o novo sol que entrará, em breve,
pela janela que hoje os mostra,
vigorosos.
O velho e novo
(e sempre) palco das labutas nossas
de todos os dias.
O sistema, as finanças,
o alimento frio
ou a iguaria nobre.
Homens de carne e ossos
a verter seu valioso
e insignificante suor,
velha seiva que dá vida a tudo
e a todos.
Festejam, sem querer pompa,
a tardia esperança de viver
sem saber por quê.
Inventam razões entre tantas razões,
só porque seu sangue quer pulsar
e seu dia é sagrado.
Virtuosos, talentosos,
que desdenhamos
atentos ao dia,
feriado,
festa de mais uma invenção
ou tolice humana.
Não percebem aplausos,
nem apupos.
Só querem viver,
fazer parte,
criar plataformas novas
para outros (novos e antigos)
movimentos.
Espetáculo gratuito
a chegar-me aos olhos
e fazê-los verter outras águas,
mais vazias e tristes que seu suor,
afinal, sou apenas espectador,
eles são os astros.
Não vou aplaudi-los;
não vão me ouvir.
Ou, talvez, não seja eu
crítico avalizado
para arte tão confusa . . . ou sublime, sei lá!
Um café se torna brinde
ou droga . . .
Que triste é não saber os porquês . . .
E fecho a janela,
(que mais?)
pois quero mesmo é poder descansar.
Hoje é meu dia!
João Luiz Muzinatti 01 de maio de 2014