(A você, querido Ole Skovsmose, gênio, cientista, filósofo e artista.)

Ciência, és viela estreita.
Poucos os que em ti caminham:
tens piso minado, espreitas
almas pesadas. Na minha
sóbria e tímida jornada,
andas altiva, nem notas
meu olhar. Segues calada
teu passo, tua nobre rota.
Sou teu servo apaixonado.
Ávido de luz, persisto;
iludido lanço os dados
que me cabem. Gosto disto ...
Porém, meus olhos transgridem
os escritos que te brotam:
Desfocam! Meu peito, idem!
Um coração me sabota,
um desejo me atropela
a lógica. Por pirraça?
Quem sabe? Como contê-lo?
Na verdade, busco graça,
beleza, sabor, bailado.
E as fórmulas, os formatos,
tudo quanto me é mostrado,
espanta-me. Sem recato,
dou lugar a sons, canções,
perco-me em ideias novas,
sem porquês e sem razões.
De repente, versos, trovas
e um arsenal de loucuras
choca-se, implode certezas,
mancha as verdades mais puras:
vê outros dados, outras mesas,
vê o belo: mestre mais nobre!
Sem negar números, retas,
toma-os, sem que nada sobre,
e os faz tela linda, ereta,
obra gratuita, poema ...
Sim, equações viram versos;
pesquisas, dizeres, temas ...
Tudo fica submerso,
flutuando em melodias
a engalanar este mundo.
E o futuro: belos dias
hão de brotar disso tudo.
A ciência borda o pano
em cores novas que dito.
Sou artífice de um plano
maior: um riso infinito,
uma terra que é mais fértil,
um homem mais generoso.
A exatidão faz-se débil,
e, pra mim, vêm valer gozo,
encanto, desejo, vida.
A arte não define o mundo:
me aponta, encontra, lida
com seus dramas mais profundos.
Sem teorias: só com versos,
cores, melodias, dor,
risos, lamentos esparsos,
ilusão, saudade, amor ...
A ciência sóbria me chama
à razão. Grita o mistério,
e a tal elegante dama
me conduz, solerte, sério
às searas do exato.
Só que meu desejo é mais:
alicia-me e desato
o que é lógico, o que é paz.
Torno-me andarilho intruso.
E, sem dar satisfação,
à vida, então, vou ... me abuso.
Buscar, saber ...por paixão!