Queria falar de amor,
do meu amor.
Olho pra trás e vejo de tudo:
paixões, sol, dentes rindo,
afagos, ar puro ...
A vida me deu muito!
Senti perfumes,
dores, fui ao céu,
desci ao lodo
e renasci...
Andei bêbado no tempo,
juntei farrapos
e festejei com gala,
fui xingado
e aclamado.
Invejado e desprezado.
Amei, fui amado!
Sofri e fiz sofrer.
Minhas lágrimas e meus risos
escrevem um livro torto,
sem nexo.
Meus passos não deixam flores,
mas a vida de tanta gente
exala meu ruído antigo.
Sim! Isso!
Hoje, posso falar de tanta coisa!
Mas, fico por aqui:
só amor!
Amor de muitas formas, tons,
músicas, esbarrões, soluços.
Hoje, sei que amei ... demais!
E sigo esta sina, sem mais.
Não quero mais.
Não preciso de mais.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2019
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
DOR E PERPLEXIDADE
Quando miro a vida e as suas nuances, penso que o sol não dá conta, muitas vezes, de nos moldar as paisagens como deveria. Falta-me entendimento; penso na minha perplexidade como incapacidade (é certo); mas não vejo as coisas claramente: a luz é pouca, os caminhos estão borrados, estranhos. Por onde quer que eu ande, sinto um perigo a se camuflar em meio a movimentos desencontrados, falas difusas e imagens desfocadas. O que pode querer dizer tudo isso?
No final de semana, uma festa de jovens – como muitas que vemos em nossa cidade. Jovens de uma famosa comunidade paulistana que se engancha num dos bairros mais ricos de São Paulo. Uma moçada que incomoda por ser moçada, por ser pobre e, principalmente, por dividir a panorâmica com a parte pitoresca da tela. Uma galera que foi à balada, no seu cantinho, com a sua alegria, com seu jeito de ser bela e livre. E a festa incomodou. E foi destroçada.
A polícia, formada por homens igualmente pobres e que só estão ali por falta de opção, descarregou nesses jovens o ódio emprestado pela elite branca e perfumada da cidade. Massacre! Dor e perplexidade por parte de quem resolveu gastar um tanto do seu salário num momento de afirmação de vida, numa camuflagem da dor de se ver tão próximo e tão distante do mundo radiante e lustroso. “Que diabos é isso?” “Por que incomodamos tanto?”
Nas redes sociais, um misto de riso silencioso e descaso por parte daqueles que não suportam conviver com o contraste e a dor intrusa de quem não deveria estar ali. E risos ainda mais cínicos e irônicos vindo dos alcoviteiros (sonhadores) das elites abastadas: brancos seguros de si, aspirantes a nobres, de roupas de marca e carros pagos em dezenas de prestações. A festa com a dor; a versão pós moderna das apoteóticas arenas romanas.
Em meio a essa realidade, a questão perdida, sem lugar nem tempo: por que isto? A quem pode servir toda essa barbárie? Enquanto governadores elogiam os algozes, a mídia tempera suas palavras e a população anda de cabeça baixa. A cidade amanhece cinza, úmida e estranha. Ninguém sabe de onde vem o ar lúgubre que invade qualquer paisagem. A vida tenta continuar. E, entre os risos, os lamentos e o silêncio, carros, pedestres e o próprio sol tentam se acomodar no quadro da nova manhã.
No final de semana, uma festa de jovens – como muitas que vemos em nossa cidade. Jovens de uma famosa comunidade paulistana que se engancha num dos bairros mais ricos de São Paulo. Uma moçada que incomoda por ser moçada, por ser pobre e, principalmente, por dividir a panorâmica com a parte pitoresca da tela. Uma galera que foi à balada, no seu cantinho, com a sua alegria, com seu jeito de ser bela e livre. E a festa incomodou. E foi destroçada.
A polícia, formada por homens igualmente pobres e que só estão ali por falta de opção, descarregou nesses jovens o ódio emprestado pela elite branca e perfumada da cidade. Massacre! Dor e perplexidade por parte de quem resolveu gastar um tanto do seu salário num momento de afirmação de vida, numa camuflagem da dor de se ver tão próximo e tão distante do mundo radiante e lustroso. “Que diabos é isso?” “Por que incomodamos tanto?”
Nas redes sociais, um misto de riso silencioso e descaso por parte daqueles que não suportam conviver com o contraste e a dor intrusa de quem não deveria estar ali. E risos ainda mais cínicos e irônicos vindo dos alcoviteiros (sonhadores) das elites abastadas: brancos seguros de si, aspirantes a nobres, de roupas de marca e carros pagos em dezenas de prestações. A festa com a dor; a versão pós moderna das apoteóticas arenas romanas.
Em meio a essa realidade, a questão perdida, sem lugar nem tempo: por que isto? A quem pode servir toda essa barbárie? Enquanto governadores elogiam os algozes, a mídia tempera suas palavras e a população anda de cabeça baixa. A cidade amanhece cinza, úmida e estranha. Ninguém sabe de onde vem o ar lúgubre que invade qualquer paisagem. A vida tenta continuar. E, entre os risos, os lamentos e o silêncio, carros, pedestres e o próprio sol tentam se acomodar no quadro da nova manhã.
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