Que tristes as paredes
estacionadas!
São frias,
narradoras insensíveis
da solidão da manhã,
do tempo a escorrer,
da vida a se esvair.
Que sonhos ainda vivem,
se elas, opacas, estáticas,
não me gritam,
nem me acordam,
ou sacodem?
Lá de onde vem a luz pouca,
que as descreve
e as exalta mais que o devido,
deve haver signos novos,
"auroras que não brotaram",
acenos de amores,
pensamentos,
vida a querer viver.
Mas parece que,
de tão paralíticas, sonsas,
preferem se calar
ou cantar pra dentro,
afagando com seda
a solidão que inspiram
e expiram.
De mãos dadas,
encarceram o desistir,
alimentando-o, sempre.
Blindam o silêncio
de todas as melodias
e versos de vida.
Festejam o medo,
o vazio e as infinitas
ou fúteis dores do mundo.