sábado, 18 de março de 2023

EU CAMINHANTE


Na contramão de verdades,

retilíneos, exatos, precisos,

eternos.


Morando sob tetos cinzas, 

entre peças sem lustro, foscas,

demodês. 


Achando graça em ditos banais,

joias que não cintilam,  dias comuns,

pastelões.


Pensando na alegria de Epicuro,

na inocência de Chaplin, em Nietzsche, 

Espinosa.


Degustando festas sem gala,

doces de São João, couve, cachaça, 

jaboticabeiras.


Sonhando com a vida (a mesma)

e acordando sem sobressaltos,

vagaroso.


Chorando com notas singelas, poemas, 

gols de placa, brisas perfumadas,

lembranças. 


Indiferente à indiferença 

da natureza, do acaso, da morte ...

Pacato.


Mirando luzes que me acenam,

vislumbrando (sempre) outras obras primas,

invenções. 


Querendo mais da vida, mas sabendo

que é curta, sem porquês, alucinada ...

linda.


Sabendo-me estranho (a mim mesmo),

ridículo, às vezes sábio, mortal,

único. 


Olhando pra trás, vaidoso, paciente.

Olhando pra frente, menino, arrojado,

insaciável. 


Querendo, mais que tudo, esperando,

fazendo juras às veredas, desejando, 

aceitando.


Me vendo menino, aprendiz, sonhador.

Sabendo certo o fim, como o brotar da vida.

Vivendo ...




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