sexta-feira, 15 de setembro de 2023

QUE ESTRANHO


    
        “Que estranho”!

Isto já se tornou uma rotina para mim. Uma sina! Coisa de quem quer ser usuário de computadores, internet e afins. Basta começar um trabalho com o computador, e o risco aparece. Uma operação que não se completa, uma sala na qual não consigo entrar, o som que não escuto (ou o meu, que não vai a quem me espera do outro lado) ... E, de repente, após apelar aos especialistas em informática de plantão e explicar meu problema, a fala solene e rotineira: “que estranho”!

O que isso quer dizer? Bem, já analisei o fato com cuidado, e a quantidade de repetições me permitiu até teorizar sobre. Geralmente, vem em dose dupla.

Da primeira vez, a desconfiança de que eu possa ter cometido algum erro. Muitas vezes isso até acontece. Mas, nos últimos tempos, após ter me policiado para pedir socorro somente após ter tentado de tudo, é mais comum responder com “sim” às muitas perguntas sobre se eu tentei isto, aquilo, aqueloutro ... E, nesse caso, vem a outra dose: aquela que não é direcionada a mim mas à própria pessoa: “que estranho”, como a traduzir a inquietação secreta em pensamento: “acho que não tenho a menor ideia sobre o que está acontecendo”. Surge, então, a longa operação de se tentar de tudo – tudo aquilo que nem passou pela sua cabeça no momento em que pedi ajuda. E a coisa anda. Até o momento em que, depois de tudo, inclusive vários momentos de desconexão das redes (elétrica e da internet), a coisa acontece e voltamos a respirar. Agradeço muito, do fundo do coração. Percebo que a pessoa especialista sai buscando explicações sobre o que possa ter acontecido. Em clima de vitória, após minhas efusivas falas de gratidão, o ser iluminado me abandona e vai, em outra missão, socorrer outro pobre usuário.

Essa frase parece não ter pátria ou crença: é meio universal. Lembro-me de tê-la escutado pessoal e virtualmente, in loco ou a distância. Até internacionalmente – em aulas on line, nas quais percebo que as doces viagens bancadas são coisas do passado. Sempre a mesma queixa. Sempre a evocação de que a natureza, ainda que pretensamente dominada, preserva seus mistérios.

A mim, resta o consolo de que tentei, e tentarei sempre. Afinal, que banal seria a vida sem os enigmas que, ao fim e ao cabo, vêm valorizar o passe de pessoas, sistemas e equipamentos. E, não sendo um dos iluminados especialistas em informática, resta-me saber que participo, de alguma maneira, da dinâmica dessa gente. Afinal, também eu, após cada acontecimento, não tendo entendido os porquês das falhas nem os caminhos das vitórias, perplexo, tenho o sagrado direito de soltar a minha voz: que estranho!

João Luiz Muzinatti

Setembro / 2023


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